quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Videolog parte 2 - Frio

O francês fazendo graça comigo porque eu estava com frio enquanto esperava o ônibus. No vídeo ele fala que estava 6 graus, mas quando cheguei em casa vi que estava fazendo apenas 1 grau nesse dia. :)


sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Videolog part 1

Imagens valem mais do que mil palavras.
Seguindo essa linha, aí vai um vídeo.
Uma boa oportunidade de escutar o sotaque francês :)
Resumo da ópera:
Marco tentou convencer Stephane a ir nesse brinquedo a noite toda.
Depois de muito esforço ele conseguiu arrastar o francês nos 45 minutos do segundo tempo, já perto de fechar o parque.




Em breve, tem mais.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Solidões



Dos contratos feitos quando se nasce, o compromisso firmado com a solidão é dos mais fortes e irremediáveis. Não me refiro à solidão por falta de companhia, mas sim daquela que é inerente a toda e qualquer condição humana. A solidão de ser unidade, de ser indivíduo, da nossa existência interna e subjetiva. E não falo isso em cores tristes, apenas acho que é uma parte do jogo que se aceita quando se opta por existir.
Falo daquela impotência que nos faz utilizar todos os falhos meios, como as palavras, para expressar de maneira pálida e distante, o que se vive nos infinitos tons que pintamos dentro do nosso pensamento. É como tentar fazer com que o "outro" visualize uma cor que não existe.
E pelo que consigo ver daqui de dentro, o amor é a estrada que mais se aproxima dessa fronteira inalcançável. O único tradutor parcialmente confiável e com um conhecimento razoável dos idiomas do sentimento. E entre os amores que vivo e vivi, desde o amor-amigo, que é a forma mais frequente de amor, até o amor-paixão, um dos tradutores mais entusiasmado desses universos, tenho visto o mundo através dos olhos de muitos. A solidão tem sido apenas o espaço que fica, a palavra que cala e o sentimento que não se sente enquanto percorro o caminho que me conecta a uma nova órbita oferecida por alguém.
Já me acostumei a repetir eternas novidades para recém-conhecidos, já me acostumei a acolher os novos e dar adeus aos queridos com os olhos contemplativos daqueles que sentam na plataforma de uma estação.
Aqui, vivi amizades sinceras de 1 semana, 3 meses, ou até 1 dia, reconheci minha família na face de alguns e experimentei a fulgáz intensidade das amizades e amores limitados pelo tempo. O cronômetro decrescendo diante dos seus olhos, quando um grande amigo está prestes a dizer adeus, é o catalisador ideal da busca por novos momentos inesquecíveis.
E tudo faz parte do pacto que nós fazemos com todos aqueles que amamos e que estão ao nosso redor, quando nós reconhecemos que apesar de sós, é muito melhor ir junto, de mãos dadas, seja qual for a direção.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Um estranho no ninho


Dentre as experiências mais enriquecedores que se pode passar por aqui, morar com uma família totalmente desconhecida é uma das mais interessantes. Porque morar junto não é só compartilhar espaço físico, é ver o seu dia-a-dia e os seus hábitos, que de tão enraizados são quase robóticos, por uma ótica diferente. E não estou apenas falando dos elefantes de cerâmica que quase quebro todas as vezes que desço as escadas, estou me referindo ao comum, ou você não se sentiria como uma criança quando você tem quer perguntar pra sua "mãe" como é que o chuveiro funciona?
Composta de 1 avô, 1 avó, 1 pai, 1 mãe, 3 filhas, 1 filho, 1 cachorro, 2 estudantes árabes e agora eu, minha família é quase uma ceia de natal portátil, com direito a uma belíssimo buffet, todos os dias, a partir das 6 horas.
O que mais impresssiona nisso tudo é que apesar da superpopulação, com requintes chineses, a casa é de uma organização ímpar. Dei muita sorte, quanto a isso. A casa é nova, acabou de ser construída em maio desse ano, e devo dizer que muito mais importante do que o espaço físico, é a maneira com que sou tratado por aqui. Não tenho do que reclamar quanto a carinho e atenção.
Sou e sempre fui observador calado, sou daqueles que tateiam a vida com o olhar e com o pensamento. Sou arquiteto de conclusões inacabadas no meu tempo livre. Tenho uma biblioteca de opiniões e impressões que são visitadas apenas por mim. E gosto de viver assim, como quem senta na beira do rio e vê a vida passar com a velocidade das águas.
Falo isso porque tenho me deliciado em observar e identificar todas as pequenas nuances que constroem a identidade da minha "família". Todos aqueles pequenos detalhes cotidianos que moldam as estradas do dia-a-dia nas nossas vidas.
Minha família, como é muito comum aqui no Canadá, é uma daquelas de imigrantes de segunda geração. Alguns amigos moram em casa de italianos, de gregos, de venezuelanos, no meu caso: filipinos. E o que se esperar de filipinos? Não sabia. Busquei na velocidade do pensamento alguma informação no meu repertório de preconceitos e nos arquivos da letra "F" da minha memória, mas devo dizer que filipinos era apenas um grande vazio.Cheguei aqui, então, sem saber o que esperar.
Gosto da relação que tenho com cada um dos membros da família, em especial com meu avô, falo isso porque ao contrário do pai, mãe e filhos, que possuem um inglês perfeito, meu avô não fala inglês. E não poderia descrever todos os fascínios e pormenores da minha relação não-verbal com meu "avô".
Companheiro assíduo de cafés-da-manhã silenciosos e cheios de significados, meu avô carrega no rosto aquele olhar despretensioso de quem muito já viveu, de quem carrega a tão cobiçada e poucas vezes encontrada paz de se sentir bem sob a própria pele. É detentor dos poderes quase mágicos daqueles idosos serenos, capazes de silenciar um choro de uma criança com o simples pousar de um olhar carinhoso.
E nessa minha inédita relação não-verbal, tenho aprendido. E não me incomodo também em oferecê-lo o privilégio da companhia, mercadoria de alto valor quando se chega aos crepúsculos da vida. Não são raras as vezes em que sento, por algumas horas, junto com meu avô e minha "irmã mais nova", de 5 anos, pra assistir desenho animado. Nessas horas, como em muitas outras, ressoam ecos da voz da minha amada mãe ( a real, Maria Helena), e lembro-me quando certa vez ela me disse que em dado momento da vida, quando nos tornamos idosos, voltamos a ser criança. E é exatamente isso que vejo quando escuto meu avô entoar uma sincera risada, assitindo aos mais simples desenhos, ou quando o vejo apenas confuso em descobrir os segredos do funcionamento do controle remoto.
O que posso dizer é que tenho aprendido muito. Nesse carrossel que sempre insiste em rodar nos eixos do inesperado, pelas bandas de cá, tenho me divertido muito nesse meu novo "papel" como membro de uma nova família. E confesso que tenho gostado de colecionar novas versões de mim mesmo. É o primeiro passo pra escolher, no futuro, o que se deixa pelo caminho e o que se leva adiante pra finalmente construir em definitivo, ou não, algo que se possa chamar de "eu".

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Quando as palavras não vêm de dentro

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos


Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização


Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

(Chico Buarque)

O poeta é no fim das contas um tradutor da bela e incompreensível linguagem do sentimento.
Um dos meus tradutores preferidos no vídeo que segue:



Porque, às vezes, não se tem o que dizer.
Sentir é muito mais do que suficiente...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Frio


Dizem que é da nossa natureza desejar o que não se tem. E como a grama do vizinho é mais verde, (ou branca, no caso do Canadá que tem neve) eu adoro frio. Paixão diretamente proporcional à loucura que os canadenses tem pelo verão (um belo raio de sol por aqui tem cotação mais alta que as ações da coca-cola). Lojas, restaurantes e toda e qualquer forma de vida presente no topo da América do Norte, entram em um estado de ebulição conjunto durante os aproximadamente 2 meses de verão, porque apesar de a estação durar 4 meses, apenas 2 são verdadeiramente rentáveis para prática das atividades comuns ao período.É a urgência e o prazer da apreciação que a finitude traz.
De onde eu vim, na terra do verão sem fim, intercalado apenas por chuvas juninas ou um glacial ar-condicionado no escritório, um dia de sol é como presente de aniversário repetido. E não estou eu dizendo que não gostamos do calor ou que não sabemos apreciar a beleza de observar a praia, as 4 da tarde, numa terça-feira, estou apenas afirmando que é da natureza humana a desvalorização do comum, do óbvio. Talvez seja essa a razão do meu fascínio pelas baixas temperaturas, não poderia estar mais distante, climaticamente falando , da minha realidade.
Tenho, porém, um problema pessoal e insolúvel com o frio nas primeiras horas do dia. A simples imagem da porta se abrindo as 8 da manhã me reapresentando o frio da noite anterior, que me abraça com saudade, me faz tremer de "emoção". Passado isso, faço as pazes novamente com as marcações mais baixas do termômetro.
O frio me traz uma sensação de nostalgia que não conseguiria explicar. E não é pela nossa constante fantasia de "europeus imaginários" ,que vestimos quando estamos ao norte do Equador , é por conversar com um lado meu que também é assim, meio inverno. Dentre todas as estações que carrego dentro de mim, sou mais inverno quando estou só. Talvez isso seja bom, guardo meus verões para os que estão a minha volta.
O fato é que o frio sugere aconchego, sugere busca por abrigo, e a sensação de sentar com seus amigos, numa tarde qualquer, em um dos milhares de cafés tão comuns por aqui, enquanto ventos vindos do ártico fazem sua anunciada visita a cidade, é coisa que nada paga nessa vida.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Exercícios de Generalização, parte 1: Coreanos



Se os orientais são um capítulo à parte no Canadá, os coreanos são um capítulo à parte em meio a todos os orientais. É possível vê-los aos montes, especialmente em Vancouver, conhecida como a Ásia norte-americana.
Um passeio por Chinatown é garantia de tese de mestrado em antropologia em menos de 2 horas.
E não raramente, as idas e vindas cotidianas do meu querido ônibus número 22, se transformam numa conferência de linguagens orientais que poderia acontecer em Pequim, em Tóquio ou até mesmo nas Filipinas.
Mas reservarei um capítulo à parte no blog para os asiáticos em geral, no futuro. Voltando aos coreanos:
Quem inventou os coreanos não conhecia o degradê, o meio, a média, o relativo. Quem inventou os coreanos gostava de extremos. Porque certa vez, uma amiga minha me disse que conhecia dois tipos de coreanos: o primeiro grupo formado pelos coreanos donos de uma inocência e de uma "vocação" para o correto e para o estabelecido pelos padrões, sem limite.O segundo grupo formado por aqueles que escolheram a pílula azul quando a versão coreana de Morpheus de Matrix, perguntou se eles queriam saber da cruel verdade. Esses últimos, donos do popular comportamento "tô-nem-aí-pra-nada", não possuem o pré-estabelecido molde de personalidade tão comum no primeiro grupo citado.
Vou me ater ao grupo 1, aqueles com que tive mais contato.
Os olhos cerrados são a irônica metáfora que poderia ser aplicada aos ingênuos coreanos do grupo 1, que ,de certa forma, possuem uma percepção parcial da realidade, ou do que "nós", ocidentais chamamos de "realidade", um conceito sempre discutível. São donos de uma pureza, muitas vezes, até infantil, e são capazes de gentilezas tão sinceras que fica difícil não desenvolver sinceras amizades com muitos deles.
São de um exagero cartunesco no gestual. Olhos saltitantes e uma coleção infinita de onomatopéias ininteligíveis fazem parte do repertório cotidiano dos expressivos orientais. São capazes de reagir a uma notícia de uma bomba-atômica em Seul e a um novo corte de cabelo de uma amiga com a mesma energia e intensidade.
Em uma sociedade em que todo mundo se parece, como a coreana, fica fácil imaginar o surgimento de padrões tão estabelecidos como os que observo. A partir daí vem a necessidade da diferenciação. Se nós seres humanos já somos sedentos pelo diferente, normalmente, dá pra imaginar como essa busca pode tormar proporções superlativas quando todo mundo a sua volta tem praticamente o mesmo biotipo que você. E aí todos os possíveis artifícios são utilizados em busca do "diferente", desde das roupas e marcas que se veste ( uma vez um amigo coreano me fez entrar na Louis Vuitton pra perguntar que carteira ele deveria comprar, marrom ou preta, e não me perguntem o preço da carteira), ou a música que se ouve, conheci muitos coreanos que gostavam desde hip-hop americano até punk-rock.
Eu, no meu novo papel de embaixador júnior da cultura brasileira e explorador antropológico amador, visitei vários expoentes da cultura coreana. Como é comum na sempre multi-qualquer coisa Toronto, existe um bairro coreano, denominado "Christie",e é claro que meus amigos de olhos puxados me levaram pra fazer um tour "uma noite na Coreia". E afirmo que as experiências vividas foram impagáveis. Desde tentar comer com os traiçoeiros palitinhos minúsculas porções de alimentos (que não me atrevo a imaginar o que sejam até agora), até uma animada noite em um karaokê coreano, dá pra imaginar né?
O fato é que independente dos exageros e das muitas vezes engessadas maneiras de ver o mundo, desfrutar da amizade dos meus queridos asiáticos vale muito a pena. Ter um amigo coreano na sua vida não é só interessante, é imperdível.